sábado, 3 de dezembro de 2011

_não contem com o fim do livro

Um amigo me indicou esse livro porque sabe que gosto de livros, do Umberto Eco e do Jean Claude Carrière. Eu poderia até não gostar de nada disso e ainda assim me sentiria completamente atraída por _NÃO CONTEM COM O FIM DO LIVRO e este post destina-se a explicar o porquê.
O livro é um diálogo entre dois pensadores absolutamente singulares: de um lado um escritor, bibliófilo e filósofo , autor do romance histórico que se tornou best seller na década de 80, O NOME DA ROSA (lembra?); do outro lado, um contador de histórias, roteirista, escritor, diretor e ator. A estrutura é uma conversa mediada pelo jornalista Jean-Philippe de Tonnac, mas acredito que o mediador esteja mais na posição de deleite do que propriamente para fomentar algum tipo de diálogo. A pergunta de onde tudo parte é: o livro impresso irá sucumbir a alguma estrutura digital?
A resposta poderia ser simplesmente não: assim como o rádio não “perdeu” para a televisão, a televisão não “perdeu” para o cinema, o livro também não “perderá” para a internet ou similar. Apenas haverá uma mudança de apreciação da mídia. Mas estamos falando de dois homens que passaram a vida debruçada na leitura de livros e do mundo, vivendo e escrevendo sobre suas impressões.
Somos surpreendidos com um olhar impressionante sobre o registro da história e sua importância, sobre o desenvolvimento humano com relação à comunicação. Quando chegam ao tema internet o que interpelam não é sobre a mídia em si, mas sobre a relação humana com a investigação e com a verdade. Carrière indaga:
Mas se agora dispomos de tudo sobre tudo, sem filtragem, de uma soma ilimitada de informações acessíveis em nossos monitores, o que significa a memória? Qual o sentido dessa palavra? Quando tivermos ao nosso lado um criado eletrônico capaz de responder a todas as nossas perguntas, mas também àquelas que não podemos sequer formular, o que nos restará para conhecer? Quando nossa prótese souber tudo, absolutamente tudo, o que devemos aprender ainda?
Ao que Eco responde:
A arte da síntese.
E ele está obviamente se referindo à síntese hegeliana, aquela que parte da investigação, compreensão da tese, formulação e confronto com a antítese.
O recado é que, assim como a leitura do livro, a verdade não é apenas o que é expresso na Wikipédia, mas antes é uma orientação que precisa ser lida, revista e confrontada até a exaustão com outras tantas bases de informação.
A internet mudou completamente nossa maneira de pesquisar. Nós, que nascemos antes da década de oitenta, sabemos muito bem o que isso quer dizer, porque tínhamos a Barsa ou a Enciclopédia Britânica ocupando um lugar que agora é da Google. Mas a mudança fundamental é que agora, quando buscamos um verbete, aparecem milhões de resultados possíveis, o que antes se restringia a uma única verdade cedeu espaço à dúvida.
Procuro, por exemplo, a palavra síntese e encontro 11.600.000 possibilidades em 0, 06 segundos. As respostas passam por um site de notícias sobre a luta dos trabalhadores da educação na rede pública de Sergipe a um Fórum no Yahoo sobre resumo, síntese e resenha de livros. A compreensão exata daquilo que estou buscando é fundamental para a leitura de qual o resultado devo seguir. O leitor da internet, diante das infinitas possibilidades, precisa paulatinamente tornar-se mais letrado, mais arguto, mais seletivo, num processo que evolui na mesma velocidade que a tecnologia. E como realizar essa conquista? Debruçar-se sobre os antigos autores, lê-los, relê-los e tomar deles a orientação necessária para a elaboração das perguntas que conduzem a verdade. A busca é uma ciência a ser estudada e reverenciada. E a orientação de como isso é feito advém daqueles que se ocupam e ocuparam a relatar nos livros o seu processo.

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