sexta-feira, 18 de novembro de 2011

AONDE VOCÊ VAI, PAPAI?

Ontem, 17/11/2011, a presidenta Dilma Roussef lançou o Plano Nacional da Pessoa com deficiência promovendo uma série de ações que contemplem essa população.
Lembrei-me então de um livro chamado AONDE VOCÊ VAI, PAPAI? (Editora Intrínseca), do francês Jean-Louis Fournier.
É o relato da experiência de um pai com seus dois filhos com deficiências motoras e neurológicas.
É um livro muito difícil de ser contado por seu tom absolutamente desconcertante. 
Nosso álbum de família tem pouquíssimas fotos.
Não temos muitas imagens deles, nem vontade de mostrá-los. Uma criança normal é fotografada de todos os ângulos, em todas as poses, em todas as ocasiões; nós a vemos quando apaga a primeira vela, quando dá os primeiros passos, quando toma o primeiro banho. Olhamos para ela enternecidos. Acompanhamos passo a passo seus progressos. Mas não temos vontade de acompanhar a ruína de um menininho deficiente.
O livro é escrito em primeira pessoa, como se você estivesse lendo uma carta onde o autor revela a sua incapacidade de superar a sua decepção em ter se tornado pai de Mathieu e Thomas. Não há espaço para chavões de superação ou de olhar apreciativo sobre a deficiência. Ele é cru, queria ter tido dois filhos normais para ter uma vida de pai normal. Ele ironiza isso dizendo que nunca terá que ter as preocupações de outros pais sobre o futuro profissional dos filhos, a adequação da conduta, as más companhias.
Ainda estamos engatinhando no caminho do olhar sobre a deficiência, porque também estamos longe de valorizarmos a diversidade. Tudo que é diferente precisa ser eliminado, amassado, esticado, lipoaspirado, torcido para que enfim caiba numa forma única daquilo que é considerado normal.
E o normal é um conceito tão inatingível que ninguém, eu digo ninguém mesmo (nem a Gisele Bündchen) consegue bater no peito e dizer tranquilamente: eu sou uma pessoa inteira, não há nada em mim que deva ser mudado.
Há uma centena de livros que dizem tudo que você precisa fazer para ser mais parecido com aquilo que as pessoas querem que você seja. As mesmas pessoas que lêem os livros e também querem ser aquilo que talvez você espere delas. É uma busca constante por uma perfeição que simplesmente não existe. Fournier não está fora disso. Ele busca um par de filhos que sejam encantadores como as crianças do comercial de margarina, mas eu preciso dizer uma coisa: o meu filho, que é encantador, não é como as crianças do comercial de margarina, às vezes ele faz coisas que me tiram do sério, que me surpreendem, que me irritam, que me desassossegam.
Porque a vida é desassossego, é transformação. Mas não é essa a nossa carga cultural.
Há uma indústria muito grande movimentada pela insatisfação humana e não me refiro apenas às roupas, cosméticos e cirurgia plástica. A ocupação que fazemos do planeta já é a prova da nossa insatisfação com a natureza: temos que colocar cada vez mais concreto, tornar o solo cada vez mais impermeável e construir casas cada vez mais altas apenas para ter uma bela visão da natureza.
Não precisaríamos de um plano de governo específico para pessoas com deficiência se simplesmente as considerássemos aquilo que são: cidadãs.
Às vezes a gente dá uma volta bem grande para chegar num ponto muito próximo.
Pois é, aonde nós vamos, papai?
Esse é o tom.

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