terça-feira, 22 de novembro de 2011

EI, TEM ALGUÉM AÍ?

Ontem eu estava assistindo à TV Escola e me despertou especial interesse o comentário de uma professora que dizia que a literatura para crianças sempre foi considerada como um gênero menor, no entanto, o livro infantil requer uma série de cuidados que o livro dito para adultos não precisa ter.
Pus-me a refletir…
Sou uma leitora voraz, costumo debruçar-me até sobre manuais e bulas. Conservo até hoje um hábito adquirido na adolescência: a leitura de dicionários, portanto, tenho certo cabedal para avaliar a questão. Parafraseando Humberto Mariotti, vou evitar o automatismo do simplesmente concordar e discordar e partir para a complexidade que essa afirmação carrega dentro de si.
A literatura para crianças é introduzida na vida de seu público alvo em um momento crucial de formação de valores éticos e compreensão de princípios morais. Momento de desenvolvimento da crítica e da autocrítica e, não menos relevante, de formação do gosto estético e apreciação da arte, literatura incluída. Tendo isso como perspectiva, é de se esperar que haja cuidado com o que é lido para as crianças, mas esse não é um pensamento tão simples.
Não é função do livro ensinar as crianças, ele é uma ferramenta de diálogo entre o mundo da criança, aquilo que concerne ao seu interior e também ao seu círculo próximo de informação (pais, parentes, professores, amigos, TV, internet etc) e um mundo mais longínquo, com acontecimentos que não façam parte desse universo, mas que, de alguma forma, comuniquem-se com eles.
Posto dessa forma percebe-se a amplitude de “agentes educadores” que, juntamente com a literatura, participam da formação dos padrões infantis. Portanto não apenas o livro mas tudo que se apresenta às crianças deve ter um cuidado especial.
Mas o que fazer com crianças que estão no mundo, expostas às várias mídias existentes no século XXI, e que se ampliam dia-a-dia, trazendo informações que fogem completamente ao controle de pais e educadores.
Uma boa solução é formar pequenos questionadores, criar dentro das crianças um espírito de curiosidade que as provoque a criar uma pergunta a cada elemento novo que se apresente. Não aceitar cegamente aquilo que vêem como se fosse a verdade, porque a verdade é um entrelaçado de diversos elementos.
Recentemente li para o Pedro uma obra que trata isso de uma maneira sutil e absolutamente profunda: Ei! Tem alguém aí? (Editora Companhia das Letrinhas), de Jostein Gaarder, também autor de O MUNDO DE SOFIA.
Há uma máxima que ele expõe no livro que considero ponto de partida não apenas para a formação de pequenos leitores, mas para a vida como um todo: as perguntas são mais importantes que as respostas.
O livro narra a história do menino Joakim com outro menino, muito parecido com ele, só que vindo de um outro planeta, de nome Mika. O primeiro encontro dos dois já promove uma série de reflexões sobre a relatividade. Mika está pendurado, de cabeça para baixo em uma árvore e pergunta a Joakim porque ele está de cabeça para baixo. Joakim acha a pergunta estranha, mas Mika reflete:
Quando duas pessoas se encontram e uma delas está de cabeça para baixo, não é tão fácil dizer qual delas está na posição certa.
É disso que se trata, a formação de leitores não se dá na apresentação do livro, mas na apresentação do mundo. Crianças com espírito de investigação podem ler qualquer coisa “boa” ou “má” que saberá dizer com total tranqüilidade: “do meu ponto de vista, isso aqui está de ponta cabeça”

2 comentários:

  1. Adoro o Jostein Gaarden, se tiver a oportunidade leia A garota das laranjas e O dia do curinga. São ambos muito bons. Creio que não exista uma verdade absoluta sobre nada. A afirmação "isso está de ponta cabeça", só é feita a partir de uma segunda pessoa além da que está "de ponta cabeça", uma segunda pessoa que torne válida a afirmação. Acho que as crianças precisam se sentir validadas, seguras. Mesmo que no seu ponto de vista nada esteja de ponta cabeça, devemos concordar com a criança, porque a partir da onde ela vê, tudo está ao contrário, isso desenvolve uma segurança necessária no mundo de hoje para que ela faça a diferença.
    Qual é o lado certo? Não importa, porque não há certo e errado, há somente pontos de vistas e pessoas vendo pontos de vista!

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  2. Olá, meu caro Cisne!
    As suas sugestões de leitura já estão anotadas e, assim que lê-las, escreverei minhas impressões aqui no blog.
    Gosto de seu ponto de vista, a criança precisa mesmo ter a validação daquilo que vê concretamente. É a maneira de prepará-la para ser um cidadão crítico e atuante. Eu li o que escreveu e me lembrei de Tommy, a Ópera Rock, do The Who. Você viu? na história a mãe e o padrasto mantam o pai do Tommy e dizem que ele não viu, não ouviu e não dirá nada. Ele fica cego , surdo e mudo. Vale a analogia.
    Um abraço.

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