quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SOBRE HOMENS E LOBOS

O biólogo chileno, Humberto Maturana, em seu livro AMAR E BRINCAR – FUNDAMENTOS ESQUECIDOS DO HUMANO (Editora Palas Athena) formula uma teoria bastante coerente sobre como os lobos adquiriram a alcunha de algozes da humanidade, figurando como vilões nos contos de fadas e demais histórias infantis. Vou resumir o que ele diz:
No início, todos os povos do paleolítico eram nômades e faziam constantes movimentos migratórios a fim de conseguirem abrigo e alimento. Eram basicamente coletores, mas também se dedicavam alguma atividade para a caça. Essas populações humanas, que não passavam de pequenas tribos, acompanhavam as manadas no seu deslocamento e, com isso, tinham certa garantia de subsistência. No entanto, não eram os humanos os únicos predadores a acompanhar essas manadas, havia outros animais que também tinham na caça sua principal fonte de alimento, dentre eles os lobos.
Lobos e homens partilhavam harmonicamente o espaço, sem disputá-lo, ora os homens abatiam a caça, ora eram os lobos. É importante lembrar que eram tempos difíceis e o fato de não ser bem sucedido em uma caçada podia representar a morte de alguns indivíduos no bando, de cá ou de lá.
Eis que um dia, na disputa pelo alimento, algum humano resolve afugentar os lobos, a fim de que ele se afaste da manada.
Este ato determina uma mudança no emocionar daquele ser humano que, naquele momento, reconhece o sentimento de posse.
A sugestão de Maturana é que, até ali, as populações humanas não tinham experimentado o emocionar da apropriação e que reconheciam os direitos dos lobos como comensais.
O ato de um único homem de afugentar os lobos, não determina uma transformação da cultura, mas é o início de um processo que se instala na rede de conversações.
Na próxima caçada, este homem orienta seu companheiro a auxiliá-lo para que afugente os lobos. Esse ato vai se tornando mais vultoso até que seja uma prática de caça.
Note que há uma mudança no emocionar, não apenas o sentimento de posse, mas também o de superioridade, do “eu tenho mais direito a essa caça que você”, começa a florescer.
Essa rede de conversações evolui, a prática passa a ser cotidiana, até que alguém mata o lobo a fim de negar-lhe a caça. É importante que se observe não a morte em si, mas o emocionar que a acompanha: os homens estavam acostumados a matar animais, esse é o pressuposto da caça, no entanto, o emocionar muda completamente, o respeito pelo animal morto, pelo que ele representa. Matava-se pela subsistência e não pela exclusão. A emoção que acompanha o ato de matar um lobo para negar-lhe o alimento é completamente diferente de matar-se um animal e usá-lo como alimento. No segundo caso, a morte faz parte de um sistema ecológico, no primeiro faz parte de uma relação de domínio.
A partir daí os homens passaram a cercar suas manadas e transformaram-se em pastores.
O biólogo chileno, Humberto Maturana, em seu livro AMAR E BRINCAR – FUNDAMENTOS ESQUECIDOS DO HUMANO (Editora Palas Athena) formula uma teoria bastante coerente sobre como os lobos adquiriram a alcunha de algozes da humanidade, figurando como vilões nos contos de fadas e demais histórias infantis. Vou resumir o que ele diz:
No início, todos os povos do paleolítico eram nômades e faziam constantes movimentos migratórios a fim de conseguirem abrigo e alimento. Eram basicamente coletores, mas também se dedicavam alguma atividade para a caça. Essas populações humanas, que não passavam de pequenas tribos, acompanhavam as manadas no seu deslocamento e, com isso, tinham certa garantia de subsistência. No entanto, não eram os humanos os únicos predadores a acompanhar essas manadas, havia outros animais que também tinham na caça sua principal fonte de alimento, dentre eles os lobos.
Lobos e homens partilhavam harmonicamente o espaço, sem disputá-lo, ora os homens abatiam a caça, ora eram os lobos. É importante lembrar que eram tempos difíceis e o fato de não ser bem sucedido em uma caçada podia representar a morte de alguns indivíduos no bando, de cá ou de lá.
Eis que um dia, na disputa pelo alimento, algum humano resolve afugentar os lobos, a fim de que ele se afaste da manada.
Este ato determina uma mudança no emocionar daquele ser humano que, naquele momento, reconhece o sentimento de posse.
A sugestão de Maturana é que, até ali, as populações humanas não tinham experimentado o emocionar da apropriação e que reconheciam os direitos dos lobos como comensais.
O ato de um único homem de afugentar os lobos, não determina uma transformação da cultura, mas é o início de um processo que se instala na rede de conversações.
Na próxima caçada, este homem orienta seu companheiro a auxiliá-lo para que afugente os lobos. Esse ato vai se tornando mais vultoso até que seja uma prática de caça.
Note que há uma mudança no emocionar, não apenas o sentimento de posse, mas também o de superioridade, do “eu tenho mais direito a essa caça que você”, começa a florescer.
Essa rede de conversações evolui, a prática passa a ser cotidiana, até que alguém mata o lobo a fim de negar-lhe a caça. É importante que se observe não a morte em si, mas o emocionar que a acompanha: os homens estavam acostumados a matar animais, esse é o pressuposto da caça, no entanto, o emocionar muda completamente, o respeito pelo animal morto, pelo que ele representa. Matava-se pela subsistência e não pela exclusão. A emoção que acompanha o ato de matar um lobo para negar-lhe o alimento é completamente diferente de matar-se um animal e usá-lo como alimento. No segundo caso, a morte faz parte de um sistema ecológico, no primeiro faz parte de uma relação de domínio.
A partir daí os homens passaram a cercar suas manadas e transformaram-se em pastores.
Essa mudança no emocionar pastoril passa a contaminar todas as operações da vida humana por meio de uma rede de conversações que suscitam:
a)    Relações de apropriação e exclusão, inimizade e guerra, hierarquia e subordinação, poder e obediência;
b)    Desconfiança ativa e desejo de dominação e controle;
c)    Abundância unidirecional, valorização da procriação e o crescimento ilimitado;
d)    Fragmentação em relação ao sistema ecológico.

O mais importante é observar que essa mudança no emocionar constrói paulatinamente princípios éticos. O ethos da partilha cede para uma cultura de dominação.
E foi assim que os lobos viraram maus.

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